Abraço de tamanduá
Tamanduá tem origem no tupi (tá-monduá) e dá nome a um
caçador de formigas. Mamífero e desdentado, o bichinho parece não representar
grande perigo para ninguém. Ledo engano. Não é à toa que “abraço de tamanduá”
ganhou o sentido de “abraço de amigo falso”. Quando o tamanduá avista um
inimigo, ergue-se nas patas traseiras e abre as dianteiras para aquele abraço.
Diante de recepção tão calorosa, o inimigo se aproxima. É aí que o tamanduá se
revela: abraça a vítima e lhe crava as unhas nas costas.
Arranca-rabo
Atire a primeira pedra que nunca teve ou testemunhou um
arranca-rabo na vida? Pois é, a expressão faz referência a uma grande discussão
ou briga envolvendo muitas pessoas. A origem da expressão remonta às batalhas
de muito antigamente, quando arrancar o rabo do cavalo do inimigo era visto
como uma façanha digna dos maiores guerreiros. A mania chegou a Portugal e ao
Brasil – aqui, os cangaceiros aderiram à prática e passaram a descaudar o gado
das fazendas como forma de humilhar os proprietários.
Rodar a baiana
Quando alguém ameaça rodar a baiana, sai de perto: é
confusão na certa. Mas e a baiana, o que tem a ver com gente armando barraco?
O fim da picada
Picada é aquela faixa limpa de terra, entre a roça e o mato,
para evitar que o fogo ateado no roçado não alcance o mato. O fim da picada é,
portanto, um local perigoso para quem estiver ateando o fogo no roçado. Picada
também é a trilha feita geralmente a facão para facilitar a passagem por meio
da mata e marcar o caminho para a volta. Uma pessoa que desaparece em uma
dessas trilhas é facilmente encontrada pois, em tese, basta seguir a picada.
Mas, se se chega ao fim da picada sem encontrar o desaparecido, significa que
algo muito grave aconteceu com a pessoa – do contrário, a picada continuaria.
Assim, fim da picada serve para falar de situações ruins, absurdas.
Tirar o pai da forca
Todo mundo sabe que a criatura que vai tirar o pai da forca
está apressada. A origem da expressão está em Santo Antônio, o casamenteiro. A
história conta que Antônio fazia um sermão no convento de Arcella, onde vivia,
quando soube que seu pai havia sido condenado à forca. Antônio então teria
colocado a mão no rosto, transportado-se espiritualmente para Lisboa e
defendido o pai no tribunal, conseguindo sua absolvição. Para quem ouvia seu
sermão, no convento, passou apenas um instante de silêncio. Eles sequer
poderiam desconfiar a manobra que Antônio acabara de fazer para salvar o pai.
Cheio de nove horas
Aposto que você conhece alguém “cheio de nove horas”. A
expressão é utilizada para dizer daquela pessoa cheia de frescuras e manias.
Mas e o que as manias alheias têm a ver com nove horas? O pesquisador Luís da
Câmara Cascudo, no livro Locuções tradicionais do Brasil, explica que, no
século 19, a marca das nove horas da noite era uma espécie de regulador da vida
social brasileira. Quando o relógio marcava 21 horas, era hora de se despedir
das visitas e convivas e se recolher. Estender-se não pegava bem. Aqueles
avistados pelas ruas depois das nove horas eram associados à boemia, aos
pândegos.
Pensar na morte da bezerra
Outra expressão alterada pela tradição oral. A original
dizia “Pensar na morte do Bezerra”, pois fazia menção à morte de um homem de
nome Bezerra que, após ser acusado de um crime hediondo, teria sido espancado
por populares até a morte. O episódio teria sido tão violento que quando alguém
era flagrado com ar pensativo, dizia-se que estava “pensando na morte do
Bezerra”. Hoje, a frase é evocada na mesma situação, mas agora o indivíduo
pensativo, preocupado, está é pensando na morte da bezerra mesmo.
Sem eira, nem beira
Um sujeito sem eira nem beira é aquele sem dinheiro e sem
juízo. Antigamente, “eira” designava um espaço de terra batida ou cimentada,
próximo às casas, onde se limpavam e secavam frutos e cereais. Possuir uma eira
significava ser proprietário e produtor, ou seja, possuir riquezas. Já “beira”
é o nome dado à parte saliente do telhado que sobressai da parede e serve para
proteger da chuva. Aqueles que possuíam eira e beira eram pessoas de posses,
dinheiro e cultura. Quem não tinha eira nem beira eram aqueles menos abastados.
Espírito de porco
A expressão designa uma pessoa inconveniente, atrapalhada,
incômoda. No Brasil Colônia, os escravos faziam todo tipo de trabalho, mas
tinham verdadeiro pavor de abater porcos. A crença popular dizia que os
espíritos suínos atormentavam seus algozes durante à noite.
Ir para a cucuia
Fala-se que o falecido “foi para a cucuia”. A expressão
surgiu no Rio de Janeiro, em um bairro da Ilha do Governador chamado Cacuia.
Quando algum morador da região falecia, os conhecidos diziam que a pessoa foi
para o cemitério da Cacuia. A tradição oral transformou Cacuia em cucuia.
A VOZ DO POVO É A VOZ DE DEUS
Essa é obvia. Quem realmente
sabe das coisas é o povo. Antigamente, as pessoas consultavam o deus Hermes, na
cidade grega de Acaia, e faziam uma pergunta ao ouvido do ídolo. Depois o
crente cobria a cabeça com um manto e saía à rua. As primeiras palavras que ele
ouvisse eram a resposta a sua dúvida.
ABRAÇO DE URSO
Um abraço significa demonstração de amizade
e afeto. Já a expressão significa puro fingimento ou traição. É que é da
natureza do urso fazer isso, só que, nessa hora, ele prepara é um ataque que
pode levar a pessoa abraçada à morte.
ACABAR TUDO EM PIZZA
Uma das expressões mais comuns quando
alguém quer criticar a política é: “tudo acabou em pizza.” Trata-se de quando
algo errado é resolvido sem que ninguém seja punido e sem nenhuma solução
adequada. O termo surgiu através do futebol. Na década de 60, alguns cartolas
palmeirenses se reuniram para resolver alguns problemas e durante 14 horas
seguidas de brigas e discussões, estavam morrendo de fome. Então, todos foram a
uma pizzaria, tomaram muito chope e pediram 18 pizzas gigantes. Depois disso,
foram para casa e a paz reinou absolutamente. Depois desse episódio, Milton
Peruzzi, que trabalhava na Gazeta Esportiva, fez uma manchete: “Crise do
Palmeiras termina em pizza”. Daí em diante o termo pegou.
ACABOU-SE O QUE ERA DOCE
Como toda criança e alguns
adultos gostam de doce, essa expressão é uma forma delicada de negar aquilo que
pediram, ou dizer que terminou, aquilo que a pessoa estava gostando tanto. É
uma maneira menos agressiva de dizer um retumbante NÃO. Exemplos: acabou-se as
férias, o carnaval, o namoro, o dinheiro, etc.
ACORDO LEONINO
Um «acordo leonino» é aquele em que um dos
contratantes aceita condições desvantajosas em relação a outro contratante que
fica em grande vantagem. A sua origem vem das fábulas, onde o leão se revela
como todo-poderoso.
ADVOGADO DO DIABO
Essa expressão teve origem na Igreja
Católica. Quando um processo de santificação tem inicio, o Vaticano escolhe um
de seus membros para investigar se os milagres atribuídos ao candidato são de
fato verdadeiros. Essa pessoa passou a ser chamada, então, de advogado do
diabo, pois iria trabalhar para comprovar algumas irregularidades e inverdades
contra o candidato a santo.
AGORA É QUE A PORCA TORCE O RABO
Significa que se chegou a
um ponto máximo da problemática de algum processo, seja qual for. É o momento
mais difícil, mais crucial de um problema, O berço da expressão vem do
comportamento instintivo dos suínos. Quando em estresse, na defesa de suas
crias, eles enrolam ou torcem o rabo como sinal de sua fúria e partem para cima
do agressor.
ANDAR À TOA
Toa é a corda com que uma embarcação reboca a
outra. Um navio que está "à toa" é o que não tem leme nem rumo, indo
para onde o navio que o reboca determinar. O significado da expressão, por
conseguinte, é andar sem destino, despreocupado, passando o tempo. Ou então uma
pessoa sem determinação, que é comandada pelos outros.
ARCO DA VELHA
Uns dizem que a expressão tem origem no
Antigo Testamento. Seria o sinal do pacto que Deus fez com Noé. Arco da velha
seria uma simplificação de Arco da Lei Velha. Mas há também diversas histórias
populares que defendem outra origem da expressão, como a da existência de uma
velha no arco-íris, sendo a curvatura do arco a curvatura das costas provocada
pela velhice, ou devido a uma das propriedades mágicas do arco-íris - beber a
água num lugar e enviá-la para outro, pelo que velha poderá ter vindo do
italiano bere (beber).
BAFO DE ONÇA
A onça é um animal carnívoro e se lambuza na
hora de comer a caça, por isso fede muito e sua presença é detectada à distância
na mata. Devido a isso, o hálito fétido passou a se chamar popularmente de bafo
de onça. Também significa o hálito de quem está (ou esteve) alcoolizado.
BATATINHA QUANDO NASCE, ESPARRAMA PELO CHÃO
Trata-se de um
conhecido ditado popular. Mas sua origem era “batatinha quando nasce, espalha a
rama pelo chão”.
BATER NA MADEIRA
Historicamente, a árvore a ser tocada era
o carvalho, venerado por sua força, altura imponente e poderes sobrenaturais. O
culto surgiu há cerca de 4 mil anos entre os gregos e depois entre algumas
tribos indígenas da América. Eles observaram que o carvalho era freqüentemente
atingido por raios e pressupuseram que a árvore fosse a moradia do deus-céu
(índios) e deus dos relâmpagos (gregos). E acreditavam que qualquer pensamento
ou palavra de mau-agouro poderia ser neutralizada batendo-se na base do
carvalho, pois a pessoa estaria se contatando com o deus e pedindo ajuda.
Atualmente dá-se uma pequena batida em qualquer madeira para afastar um
pensamento ou presságio ruim.
CAGADO E CUSPIDO
Sua origem tem algumas variações. Uma
delas é “calcado e esculpido” (que se calcou/comprimido). Uma outra é “em
carrara esculpido”, onde carrara é um tipo de mármore usado para esculpir e que
deixa as peças mais “bem feitas” que outros tipos de mármores usados. Há ainda
uma outra variante para tal expressão: “encarnado e esculpido”, como se o rosto
e o espírito de alguém estivessem entranhados no rosto ou no corpo de outra
pessoa. Significa muita semelhança entre duas pessoas. (Colaboração de Fabíola
Luna e prof. Marcio Cotrim).
CAIR A FICHA
A expressão ainda é bastante popular, mas já
não faz sentido, pela simples razão de que não se usa mais ficha para falar em
telefone público. Agora é cartão. Desde 1930, os telefones públicos funcionavam
com moedas de 400 réis. Veio a inflação, e galopante, o que fez com que, a
partir dos anos 70, o governo preferisse a utilização de fichas. Só com elas
seria possível acionar os chamados orelhões, equipamento urbano muito conhecido
nas cidades brasileiras. Esse tipo de ficha só caía após ser completada a
ligação, o que fez nascer a expressão cair a ficha, ou seja, o momento em que
conseguimos entender alguma coisa. As fichas desapareceram em 1992 e deram
lugar aos cartões, até hoje em vigor, mas a expressão continua sendo lugar
comum em nosso quotidiano.
CALCANHAR DE AQUILES
Vem da mitologia. A mãe de Aquiles,
Tétis, com o objetivo de tornar seu filho invulnerável, mergulhou-o, ainda
bebê, num lago mágico, segurando o filho pelos calcanhares, que tendo ficado
fora da água, foi a única parte de seu corpo a não se beneficiar com a magia.
Páris feriu Aquiles, na Guerra de Tróia, justamente nesse calcanhar, matando-o.
Portanto, o ponto fraco ou vulnerável de um indivíduo, por metáfora, é o
calcanhar de Aquiles.
CANTO DO CISNE
Dizia-se antigamente que o cisne emitia um
belíssimo canto pouco antes de morrer. A expressão canto do cisne representa
então as últimas realizações de alguém.
CASA DA MÃE JOANA
Na época do Brasil Império, mais
especificamente durante a menoridade do Dom Pedro II, os homens que realmente
mandavam no país costumavam se encontrar num prostíbulo do Rio de Janeiro cuja
proprietária se chamava Joana. Como, fora dali, esses homens mandavam e
desmandavam no país, a expressão casa da mãe Joana ficou conhecida como
sinônimo de lugar em que ninguém manda.
CHÁ DE CADEIRA
Tem a ver com atraso; com muito atraso.
Historicamente, os nobres e fidalgos consideravam-se superiores às outras
pessoas. Quando seus súditos queriam alguma audiência, eles eram acomodados em
cadeiras e esperavam muito até serem atendidos, pois seus senhores atrasavam
bastante para salientar o privilégio de poder fazê-lo. Os empregados, então,
serviam chá para essas pessoas, que “mofavam” nas salas de espera, como uma
forma de amenizar os longos atrasos. Daí surgiu essa expressão.
CHATO DE GALOCHA
Significa pessoas muito chatas,
resistente e insistente. A galocha era um tipo de calçado de borracha colocado
por cima dos sapatos para reforçá-los e protegê-los da chuva e da lama. Por
isso, há uma hipótese de que a expressão tenha vindo da habilidade de reforçar
o calçado. Ou seja, o chato de galocha seria um chato resistente e insistente.
CHEGAR DE MÃOS ABANANDO
Os imigrantes, no século passado,
deveriam trazer as ferramentas para o trabalho na terra. Aqueles que chegassem
sem elas, ou seja, de mãos abanando, davam um indicativo de que não vinham
dispostos ao trabalho árduo da terra virgem. Portanto, chegar de mãos abanando
é não carregar nada. Ele chegou de mãos abanando ao aniversário, significa que
não trouxe presente para o aniversariante, que terá de se satisfazer apenas com
a presença do amigo.
CHORAR AS PITANGAS
O nome pitanga vem de pyrang, que, em
tupi, significa vermelho. Portanto, a expressão se refere a alguém que chorou
muito, até o olho ficar vermelho.
COM A PÁ VIRADA
Um sujeito da pá virada pode tanto ser um
aventureiro corajoso como um vadio. Mas sua origem tem relação com o
instrumento, a pá. Quando a pá está virada para baixo, voltada para o solo,
está inútil, abandonada pelo homem vagabundo, irresponsável, parasita. Hoje em
dia, o sujeito da "pá virada" tem outro sentido. Ele é O
"bom". O significado das expressões mudam muito no Brasil, com o
passar do tempo. E aqui está um exemplo.
COLOCAR NO PREGO
A origem dessa expressão vem do fato de
que nas antigas casas comerciais – tabernas, empórios, farmácias – existia um
prego onde o comerciante espetava as contas de quem pedia para pagar depois.
Quando o freguês retornava para quitar a dívida, o dono tirava os papéis do
prego, somava os valores e cobrava. Colocar no prego é colocar no pendura,
comprar fiado, pagar depois. Ainda hoje alguns comerciantes, que não gostam
disso, exibem um cartaz bem visível que avisa: “Fiado só amanhã”.
CONTO DO VIGÁRIO
Duas igrejas de Ouro Preto receberam,
como presente, uma única imagem de determinada santa, e, para decidir qual das
duas ficaria com a escultura, os vigários apelaram à decisão de um burrico.
Colocaram-no entre as duas paróquias e esperaram o animalzinho caminhar até uma
delas. A escolhida pelo quadrúpede ficaria com a santa. E o burrico caminhou
direto para uma delas... Só que, mais tarde, descobriram que um dos vigários
havia treinado o burrico, e conto do vigário passou a ser sinônimo de falcatrua
e malandragem.
DA COR DE BURRO QUANDO FOGE
O ditado original era “corra
de burro quando (ele) foge”, que era um aviso de perigo próximo e iminente.
DAR COM OS BURROS N`ÁGUA
A expressão surgiu no período do
Brasil colonial, onde tropeiros que escoavam a produção de ouro, cacau e café,
precisavam ir da região Sul à Sudeste sobre burros e mulas. O fato era que
muitas vezes esses burros, devido à falta de estradas adequadas, passavam por
caminhos muito difíceis e regiões alagadas, onde alguns dos burros morriam
afogados. Daí em diante o termo passou a ser usado para se referir a alguém que
faz um grande esforço para conseguir algum feito e não consegue ter sucesso
naquilo.
DE CABO A RABO
Significado: Total conhecedor. Conhecer
algo do começo ao fim. Histórico: Durante o período das grandes navegações
portuguesas, era comum se dizer total conhecedor de algo, quando se conhecia
este algo de "cabo a rabah", ou seja, como de fato conhecer todo o
continente africano, da Cidade do Cabo ao Sul, até a cidade de Rabah no
Marrocos (rota de circulação total da África com destino às Índias).
DE MEIA-TIGELA
Na linguagem popular, é coisa de pouco
valor. A origem da expressão nos leva aos tempos da monarquia portuguesa. Nela,
as pessoas que prestavam serviço à Corte – camareiros, pajens, criados em geral
– obedeciam a uma hierarquia, com obrigações maiores ou menores, dependendo do
posto de cada um. Alimentavam-se no próprio local de trabalho e recebiam
quantidade de comida proporcional à importância do serviço prestado. Assim,
alguns comiam em tigela inteira, outros em meia-tigela, critério definido pelo
Livro da Cozinha del Rey e rigorosamente observado pelo funcionário do palácio,
que supervisionava as iguarias que chegavam à mesa real – na verdade, o grande
fiscal da comilança palaciana. Hoje, essa prática deixou de existir, mas ficou o
sentido figurado da expressão, que continua designando coisas ou pessoas
irrelevantes no seu meio social.
DEIXAR AS BARBAS DE MOLHO
Na antiguidade e na Idade Média,
a barba significava honra e poder. Ter a barba cortada por alguém representava
uma grande humilhação. Essa idéia chegou aos dias de hoje nessa expressão, que
significa ficar de sobreaviso, acautelar-se, prevenir-se.
DOR DE COTOVELO
A expressão, usada para se referir a
alguém que sofreu uma decepção amorosa, causando tristeza ou ciúmes, tem sua
origem na figura de uma pessoa sentada em um bar, com os cotovelos em cima do
balcão enquanto toma uma bebida e lamenta a má sorte no amor. De tanto o
apaixonado ficar com os cotovelos apoiados no balcão, eles iriam doer. A partir
daí que surgiu a expressão “dor-de-cotovelo”.
DOSE PARA ELEFANTE (OU PARA CAVALO, OU PARA LEÃO)
Significa quantidade excessiva; demasiada. Essas variantes circulam com o mesmo
significado e atendem às preferências individuais dos falantes. Supõe-se que o
cavalo, por ser forte; o elefante, por ser grande, e o leão, por ser valente,
necessitam de doses exageradas de remédio para que este possa produzir o efeito
desejado. Com a ampliação do sentido, dose para cavalo e suas variantes é o
exagero na ampliação de qualquer coisa desagradável, ou mesmo aquelas que só se
tornam desagradáveis com o exagero.
DOURAR A PÍLULA
Antigamente as farmácias embrulhavam as
pílulas amargas em papel dourado para melhorar o aspecto do remedinho. A
expressão dourar a pílula significa melhorar a aparência de algo ruim.
ENFIAR O PÉ NA JACA
O correto é enfiar o pé no jacá.
Antigamente, os tropeiros paravam nas vendinhas, a meio caminho, para tomar uma
pinga. Quando bebiam demais, era comum colocarem o pé direito no estribo e,
quando jogavam a perna esquerda para montar no burro, erravam e pisavam no jacá
(o cesto em que as mercadorias eram carregadas) e levavam um grande tombo. Por
isso, quando alguém bebia demais dizia-se que ele enfiaria o pé no jacá. A
jaca, fruta, não tem nada com isso.
ENTRAR COM PÉ DIREITO
A tradição de dar sorte ao entrar em
algum lugar com o pé direito é de origem romana. Nas grandes celebrações
romanas, os donos das festas acreditavam que entrando com o esse pé, evitariam
agouros na ocasião da festa. A palavra “esquerda”, no latim, significa sinistro,
daí já fica óbvia a crença do lado obscuro dos inocentes pés esquerdos. A
partir daí, a tradição se espalhou pelo mundo inteiro.
ERRO CRASSO
Licínio Crasso foi membro do primeiro
triunvirato romano, juntamente com Pompeu e Júlio César. Era um político
medíocre, ambicioso e interesseiro. Tomou a ofensiva na Síria contra os Partos,
mas foi derrotado por um erro grosseiro de estratégia militar, que lhe custou a
vida. Confiante na superioridade numérica de seu exército, e disposto a
estraçalhar logo o inimigo, decidiu ganhar tempo cortando caminho por um vale
estreito. Os sírios então fecharam as duas únicas saídas e o exército romano
foi massacrado, incluindo ele próprio. Foi a decisão mais estúpida da história
militar. Daí o significado da expressão.
ESTAR COM A MACACA
O berço da expressão significava que a
pessoa estava possuída pelo demo. Em algumas culturas, palavras tipo demônio,
capeta ou diabo são sinais de má sorte. Para atenuá-los, esses vocábulos têm
sido substituídos por cão e macaca. Atualmente, a expressão caracteriza a
pessoa nervosa, estressada, irritada.
ESTAR COM (OU DAR) ÁGUA NA BOCA
A expressão que, no
sentido figurado, significa “provocar desejo”, tem por base a fisiologia
animal. (principalmente os cães). É que o organismo desses animais, respondendo
ao estímulo exterior, num “ato reflexo” espontâneo, provoca salivação abundante
e facilmente induzida através do cheiro, gosto, presença ou pressentimento da
chegada do seu alimento.
ESTAR DE PAQUETE
Refere-se à situação das mulheres quando
estão menstruadas.
Paquete é uma das denominações de navio. A partir de 1810,
chegava um paquete mensalmente, no mesmo dia, no Rio de Janeiro. E a bandeira
vermelha da Inglaterra tremulava. Daí logo se vulgarizou a expressão sobre o
ciclo menstrual das mulheres.
ESTÔMAGO DE AVESTRUZ
O estômago do avestruz é dotado de um
suco gástrico capaz de dissolver facilmente da espécie de comida ingerida por
esse animal. A expressão, então, define aquele que come de tudo.
FALAR PELOS COTOVELOS
A frase, que significa “falar
demais”, surgiu do costume que as pessoas muito falantes têm de tocar o
interlocutor no cotovelo a fim de chamar mais a sua atenção. O folclorista
brasileiro Câmara Cascudo fazia referência às mulheres do sertão nordestino,
que à noite, na cama com os maridos, tocavam-nos para pedir reconciliação
depois de alguma briga.
FAZER A SESTA
A expressão significa descansar ou repousar
depois do almoço e é um hábito que remonta aos antigos romanos. Chama-se sesta
porque é a sexta hora do dia romano, iniciado às seis horas da manhã. O costume
ocorre até hoje em alguns países, que fecham o comércio na hora da sesta, só
reabrindo-o no meio da tarde. Estudos dizem que fazer a sesta reduz o risco de
morte por doenças cardíacas.
FAZER BOCA-DE-SIRI
A expressão é empregada para designar
aqueles que se mantêm discretos e reservados em relação a determinado assunto,
que conseguem guardar segredo. Gente conhecida como moita. Mas por que se diz
que essa pessoa tão prudente faz boca-de-siri? É porque a boca do bicho
dificilmente se abre, ele fica no mocó.
FAZER NAS COXAS
As primeiras telhas do Brasil eram feitas
de argila moldada nas coxas dos escravos. Como os escravos variavam de tamanho
e porte físicos, as telhas ficavam desiguais. Daí a expressão fazendo nas
coxas, ou seja, de qualquer jeito.
FAZER O QUILO
A palavra quilo no grego é khulós (suco,
sumo), produto da digestão, a última fase dela, quando o alimento se transforma
em massa líquida. A expressão, neste caso, deve ser entendida como fazer a
digestão, processo que pode ser estimulado por uma caminhada tranqüila ou ir ao
banheiro fazer o nº 2. Mas alguns pesquisadores afirmam também que a palavra
quilo é africana e chegou ao Brasil por angolanos que falavam o idioma
quimbundo. Em quimbundo, a palavra significa sono, daí o entendimento de que
“fazer o quilo” é dar uma boa cochilada depois do almoço (sesta).
FAZER UMA VAQUINHA
A expressão “fazer vaquinha” surgiu na
década de 20 e tem sua relação de origem com o jogo do bicho e o futebol. Nessa
época, já que a maioria dos jogadores de futebol não tinha salário, a torcida
do time se reunia e arrecadava entre si, um prêmio para ser dado aos jogadores.
Esses prêmios eram relacionados popularmente com o jogo do bicho. Assim, quando
iam arrecadar cinco mil réis, chamavam a bolada de “cachorro”, pois o número
cinco representava o cachorro no jogo do bicho. Como o prêmio máximo do jogo do
bicho era vinte e cinco mil réis, e isso representava a vaca, surgiu o termo
popular “fazer uma vaquinha”, ou seja, tentar reunir o máximo de dinheiro
possível para um fim específico.
FICAR A VER NAVIOS
Dom Sebastião, jovem e querido rei de
Portugal (sec XVI), desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos.
Provavelmente morreu, mas seu corpo nunca foi encontrado. Por isso o povo
português se recusava a acreditar na morte do monarca, e era comum que pessoas
subirem ao Alto de Santa Catarina, em Lisboa, na esperança de ver o Rei
regressando à Pátria. Como ele não regressou, o povo ficava a ver navios.
FULANO DESARNOU
O certo era “fulano desasnou”, para
designar que a pessoa deixou de ser asno (burro).
FULANO, BELTRANO E SICRANO
Fulano vem do árabe fulân
("tal"). No espanhol do século XIII, fulano era usado como adjetivo,
mas depois tornou-se esse substantivo que designa algo que não sabemos o nome.
Beltrano veio do nome próprio Beltrão, muito popular na Península Ibérica por
causa das novelas de cavalaria. A terminação em ano veio por analogia com
fulano. E Sicrano tem origem misteriosa.
GATOS PINGADOS Seu significado tem sentido depreciativo,
usando-se para referir uma suposta inferioridade (numérica ou institucional),
insignificância ou irrelevância. Esta expressão remonta a uma tortura
procedente do Japão, que consistia em pingar óleo a ferver em cima de pessoas
ou animais, especialmente gatos. Existem várias narrativas ambientais na Ásia
que mostram pessoas com os pés mergulhados num caldeirão de óleo quente. Como o
suplício tinha uma assistência reduzida, tal era a crueldade, a expressão
"gatos pingados" passou a denominar pequena assistência sem
entusiasmos ou curiosidade para qualquer evento.
GUARDADO A SETE CHEVES
No século XIII, os reis de Portugal
adotavam um sistema de arquivamento de jóias e documentos importantes da corte
através de um baú que possuía quatro fechaduras, sendo que cada chave era
distribuída a um alto funcionário do reino. Portanto eram apenas quatro chaves.
O número sete passou a ser utilizado devido ao valor místico atribuído a ele,
desde a época das religiões primitivas. A partir daí começou-se a utilizar o
termo “guardar a sete chaves” para designar algo muito bem guardado.
HOJE É DOMINGO PÉ DE CACHIMBO
É uma das rimas infantis
mais conhecidas de nossa língua portuguesa e cultura. Mas o correto é Hoje é
domingo pede cachimbo. O domingo é um dia especial para descansar e relaxar,
fumando um bom cachimbo (para aqueles que fumam, naturalmente), num verdadeiro
ócio.
IDÉIA DE JERICO
Essa é de fácil dedução. Na região
Nordeste, Jerico é o mesmo que mula. A expressão, então, designa alguma idéia
tola, já que, figurativamente, jumento é o mesmo que indivíduo imbecil.
JURAR DE PÉS JUNTOS
A expressão surgiu através das
torturas executadas pela Santa Inquisição, nas quais o acusado de heresias
tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) e era torturado para dizer nada além
da verdade. Até hoje o termo é usado para expressar a veracidade de algo que
uma pessoa diz.
LÁGRIMAS DE CROCODILHO
É uma expressão usada para se
referir ao choro fingido. O crocodilo, quando ingere um alimento, faz forte
pressão contra o céu da boca, comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, ele
chora enquanto devora a vítima.
LEVAR (OU COMER) GATO POR LEBRE
Uma lei do século XIII
fixava o preço da pele de vários animais, como cordeiro, cabrito, raposa,
lontra, marta e muitos outros bichos. A do gato fazia parte dessa lista e era
muito barata (cerca de um terço da de raposa, sem falar nas peles de luxo como
a de lontra ou a de marta). Em termos culinários, a carne de gato, depois de
receber temperos que lhe fazem absorver melhor os condimentos, torna
praticamente imperceptível a diferença entre ela e a de lebre. Por isso, a
expressão significa ser enganado, ludibriado por algum vigarista.
MACACO VELHO NÃO PÕE A MÃO EM CUMBUCA
Existe uma árvore
chamada sapucaia que dá um fruto em forma de cumbuca. Quando amadurece, a
cumbuca desprende pequenas castanhas. Os filhotes de macacos enfiam a mão na
abertura da fruta e ficam presos. Eles só conseguem sair quando fecham a mão e
abandonam o fruto. O macaco velho, já experiente, não passa mais por isso.
MÃE (OU PAI, AVÔ OU AVÓ) CORUJA
A expressão nasceu da
fábula “A Coruja e a Águia”, divulgada no Brasil por Monteiro Lobato. Ela conta
que as duas aves fizeram as pazes e prometeram não comer mais os filhos da
outra. E para que fossem reconhecidos pela águia e não mais devorados, a coruja
orgulhosa estufou o peito e disse que seus filhos eram as criaturas mais
bonitas da floresta, com penas lindas, olhar marcante e esperteza descomunal.
Como todo mundo sabe, a águia não reconheceu os filhotes da coruja pela
descrição que foi dada pela sua mãe e acabou devorando alguns monstrengos que
piavam de bico aberto num ninho e que nem tinham forças para abrir os olhos. A
expressão designa aquela pessoa que, além de se esmerar nos cuidados com os
filhos, não vê defeito algum neles.
MARIA VAI COM AS OUTRAS
D. Maria I, mãe de D. João VI, foi
considerada incapaz de governar, sendo afastada em 1792, acometida por
controversos males mentais. Passou a viver recoilhida e era vista apenas quando
saía para passear a pé. Devido a seu estado, jamais ia só. Sempre era
acompanhada por algumas damas de companhia. O povo, quando a via assim, levada
pelas damas, comentava: “lá vai D. Maria com as outras”. Atualmente, a
expressão é dada para aquelas pessoas sem determinação, que não têm opinião
própria, concordando sempre com o que os outros dizem ou fazem.
MATANDO CACHORRO A GRITO
A expressão significa estar
desesperado, estar sem saída, estar passando grandes necessidades. Explicando
toscamente: quando precisamos nos defender de um cachorro, mas não temos nada à
sua mão, então o jeito é gritar tão alto até que o bicho morra de susto e fuja.
É um ato de desespero de quem não tem outro recurso.
MEMÓRIA DE ELEFANTE
Diz-se que o elefante lembra de tudo
que aprende. Então, quando as pessoas têm boa memória e se recordam de tudo,
dizemos que elas tem memória de elefante.
MOTORISTA BARBEIRO
No século XIX, os barbeiros faziam não
somente os serviços de corte de cabelo e barba, mas também, tiravam dentes,
cortavam calos, etc. E por não serem profissionais, seus serviços mal feitos
geravam marcas. A partir daí, desde o século XV, todo serviço mal feito era
atribuído ao barbeiro, pela expressão “coisa de barbeiro”. Esse termo veio de
Portugal, contudo a associação de “motorista barbeiro”, ou seja, um mau
motorista, é tipicamente brasileira.
NAVEGAR É PRECISO . . . VIVER NÃO É PRECISO
Muitas pessoas
atribuem a frase ao poeta português Fernando Pessoa, que apenas a citou. Na
verdade, seu berço é romano. O historiador Plutarco atribuiu esta frase ao
general romano Pompeu. Naquela época havia fome em Roma e Pompeu foi
encarregado para abastecer a cidade de gêneros alimentícios. Para isso
organizou uma frota que foi à África, à Sicília e à Sardenha. No dia do
regresso, com os navios carregados de trigo e outros grãos para alimentar a
população, começou uma fortíssima tempestade. Os marinheiros, temerosos,
quiseram adiar a viagem de retorno. Foi quando Pompeu, sabendo das dificuldades
que passavam seus compatriotas, reuniu a marujada apavorada e fez uma histórica
apelação, na qual teria dito a famosa expressão. Isso persuadiu a tripulação e
a frota levantou âncora. A expressão até hoje é citada em momentos de graves
decisões e serve de vigoroso estímulo a medrosos e indecisos.
NÃO É FLOR QUE SE CHEIRE
Por incrível que pareça, há uma
flor repulsiva ao olfato. É a flor-cadáver, que apesar de linda, fede.
Originária das florestas tropicais da Sumatra, é a flor mais malcheirosa do
mundo. Antes de desabrochar, praticamente não tem cheiro, mas quando floresce
libera um odor fétido, parecido com um cadáver exposto depois de vários dias. E
assim, essa expressão popular lembra a pessoa pouco recomendável, que não merece
confiança e, portanto, deve ser evitada.
NÃO ENTENDER PATAVINAS
Os portugueses tinham enorme
dificuldade em entender o que falavam os frades italianos patavinos,
originários de Pádua, ou Padova. Daí que não entender patavina significa não
entender nada.
NECA DE PITIBIRIBAS
O termo neca equivale a nada e vem do
latim nec, que significa não. De acordo com o dicionário Houaiss, o termo
pitibiriba (ou pitibiribas) é tipicamente brasileiro. Ele quer dizer nada ou
coisa alguma. Então foi só juntar os dois termos, apenas para reforçar.
NOVINHO EM FOLHA
De acordo com Flávio Vespasiano Di
Giorgi, professor de Lingüística da PUC, a expressão “novinho em folha” surgiu
em alusão a livros recém-impressos, que estariam com as folhas limpinhas, sem
dobras, riscos ou diferenças na coloração. Eram livros, portanto, “novinhos em
folha”.
O QUE É DO HOMEM, O BICHO NÃO COME
A frase quer dizer que
as características intrínsecas às pessoas não podem ser modificadas por fatores
externos. O “bicho” representa a sociedade, as leis, regras ou até outras
pessoas. Segundo o dito popular, não adianta nenhum destes “bichos” lutarem
contra os sentimentos e características arraigados em alguém.
O PIOR CEGO É AQUELE QUE NÃO QUER VER
Diz-se da pessoa que
não quer ver o que está bem na sua frente. Nega-se a ver a verdade. Parece que
a expressão surgiu em 1647, em Nimes, na França, na universidade local. Naquela
época, o doutor Vicent de Paul D'Argenrt fez o primeiro transplante de córnea
em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos para
Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via.
Disse que o mundo que ele imagina era muito melhor. Pediu ao cirurgião que
arrancasse seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano.
Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego que não quis ver.
OLHOS DE LINCE
Ter olhos de lince significa enxergar
longe, uma vez que esses bichos têm a visão apuradíssima. Os antigos
acreditavam que o lince podia ver através das paredes.
OVO DE COLOMBO
Expressão muito conhecida. É aquilo que
parece não ser possível fazer, mas se revela muito simples e fácil, depois de
feito. Seu berço está no nome de Cristóvão Colombo, o descobridor da América. A
historinha, que nem todos conhecem, é a seguinte: de volta à Espanha como herói
por haver descoberto o Novo Mundo, foi homenageado pelo cardeal Pedro Gonzalo
de Mendonza com um lauto jantar. Nele, um fidalgo, ciumento e despeitado,
menosprezou o feito de Colombo, garantindo que qualquer um poderia ter feito a
descoberta, pois já era sabido que existiam terras a oeste. A essa crítica,
Colombo evidentemente não poderia dar resposta imediata. Optou então por uma
brincadeira cheia de significação: tomou um ovo, convidou todos os presentes a
pô-lo de pé. Cada um tentou, mas em vão. Aí, Colombo quebrou a casca de uma
extremidade do ovo e, pondo-o de pé, demonstrou com simplicidade como era fácil
descobrir o caminho do Novo Mundo – depois que alguém já o tivesse feito. . .
PASSAR A MÃO NA (OU PELA) CABEÇA
A expressão parece ter
seu berço no costume judaico de abençoar seus filhos ou netos convertidos ao
cristianismo (cristãos-novos), passando-lhes a mão pela cabeça e descendo pela
face, enquanto se pronuncia uma bênção. É uma convicção de que essa atitude
atrai a aprovação de Deus. Atualmente significa perdoar ou acobertar erro ou
até crime praticado por um protegido.
PEGAR NO BICO DA CHALEIRA
Expressão ainda usada no Brasil.
Significa bajular, incensar, gabar servilmente. Seu berço foi no Rio de
Janeiro, então capital federal, a partir da poderosa figura do general José
Gomes Pinheiro Machado, senador pelo Rio Grande do Sul, presidente do Partido
Republicano Conservador, homem forte do Legislativo brasileiro e por 20 anos,
entre 1895 e 1915, eminência parda de muitos governos. Ele, como todo bom
gaúcho, mantinha na sala de sua casa uma pequena chaleira com água quente para
alimentar sua bomba do chimarrão. Choviam-lhe políticos para obter sua bênção e
favores. Todos disputavam o privilégio de segurar a chaleira para o chimarrão
que o caudilho tomava, poupando ao senador o trabalho de preparar ou servir sua
bebida preferida. Na ânsia de serem os primeiros, seguravam a chaleira por onde
melhor calhasse: pelo cabo, pelo bojo e até pelo bico - neste caso, queimando
os dedos. Mas que importava? Valia uma dorzinha besta para conseguir vantagens.
O hábito acabou gerando o verbo chaleirar, praticado pelo chaleirador, o
adulador, puxa-saco, etc.
PEGAR NO BREU
Vem dos tempos em que era comum soltar
muitos balões nas festas juninas. A tocha deles era feita de sacos de estopa
molhados com parafina de velas derretidas. No centro dessa mecha havia breu,
substância escura e inflamável, muito utilizada também na produção de colas,
tintas e vernizes. Quando o fogo atingia o centro da mecha, o balão tomava
força e subia rapidamente. Dizia-se então que o balão havia pegado no breu
(pegado impulso). Atualmente, a expressão designa situação que não pode inverter
o rumo nem retornar à etapa anterior.
PENSANDO NA MORTE DA BEZERRA
A história mais aceitável
para explicar a origem do termo é proveniente das tradições hebraicas, onde os
bezerros eram sacrificados para Deus como forma de redenção de pecados. Um filho
do rei Absalão tinha grande apego a uma bezerra que foi sacrificada. Assim,
após o animal morrer, ele ficou se lamentando e pensando na morte da bezerra.
Após alguns meses o garoto morreu.
PERDER (OU GASTAR) O LATIM
O latim ainda é a língua
oficial do Vaticano. Até o século 18, era o idioma da comunicação dos mais
letrados. A expressão é comumente utilizada para designar o trabalho
improdutivo, a realização de um esforço vão ou um discurso ou apresentação de
uma idéia onde ninguém presta atenção ou acredita.
PERDER DE W.O.
A sigla W.O é a abreviação da palavra em
inglês walkover. Significa alguma coisa que foi conseguida muito fácil, sem
nenhum esforço. Quando numa partida esportiva, um dos times não aparece, ou não
tem representantes suficientes para disputar, o adversário vence
automaticamente. A vitória conseguida sem que os times tenham jogado é
conhecida pela sigla.
POSIÇÃO QUE NAPOLEÃO PERDEU A GUERRA
Tem duas versões. A
primeira diz que teria surgido depois da batalha de Waterloo. Atingido de
raspão, Napoleão caiu ao solo e não conseguiu levantar-se. Arrastou-se então,
como cobra, com as nádegas para cima, até que, cercado pelos inimigos,
entregou-se nessa posição. Mas há quem discorde, afirmando que a expressão
estaria relacionada à trágica retirada do exército de Napoleão, dizimado na
Rússia pelo "general inverno". Os solados, vencidos por um frio
desumano e vergados ao peso das mochilas e materiais transportados, caíam em
plena marcha e muitos morriam de hipotermia, ali mesmo, de cócoras, com a cara
no chão gelado.
PRÁ INGLÊS VER
A expressão surgiu por volta de 1830,
quando a Inglaterra estava começando a combater a escravatura e exigiu que o
Brasil aprovasse leis que impedissem o tráfico de escravos. No entanto, todos
sabiam que essas leis não seriam cumpridas. Assim, essas leis eram criadas
apenas "para inglês ver". Daí surgiu o termo. A abolição da
escravatura só aconteceu realmente em 1888, 58 anos depois.
QUEIMAR AS PESTANAS
Significa estudar muito. Usa-se ainda
esta expressão, apesar de o fato real que a originou já não ser de uso. Foi,
inicialmente, uma frase ligada aos estudantes, querendo significar aqueles que
estudavam muito. Antes do aparecimento da eletricidade, recorria-se a uma
lamparina ou uma vela para iluminação. A luz era fraca e, por isso, era
necessário colocá-las muito perto do texto quando se pretendia ler, vindo daí a
expressão.
QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO
Significa que, se você não
pode fazer algo de uma maneira, se vira e faz de outra. Na verdade, a
expressão, com o passar dos anos, se adulterou. Inicialmente se dizia
"quem não tem cão caça como gato", ou seja, sozinho, se esgueirando,
astutamente, traiçoeiramente, como fazem os gatos.
QUEM TEM BOCA VAI A ROMA
Antiga expressão, que vem da
antiguidade. Sua origem era “quem tem boca vaia (verbo vaiar) Roma”, de uso
corrente na população antiga de Roma, revoltada com a cobrança dos altos
impostos.
QUINTOS DOS INFERNOS
Reinaldo Pimenta, na obra A Casa da
Mãe Joana, conta que durante o século 18 os portugueses coletavam diversos
impostos na colônia, entre eles, a quinta parte (20%) de todo ouro extraído.
Depois da coleta, enviavam estes impostos – chamados de "quinto" –
para Portugal. O povo da metrópole, que achava que o Brasil ficava muito longe,
no fim do mundo, dizia: "Lá vem a nau dos quintos do inferno".
RASGAR A SEDA
A expressão que é utilizada quando alguém
elogia grandemente outra pessoa, surgiu através da peça de teatro do teatrólogo
Luís Carlos Martins Pena. Na peça, um vendedor de tecidos usa o pretexto de sua
profissão para cortejar uma moça e começa a elogiar exageradamente sua beleza,
até que a moça percebe a intenção do rapaz e diz: “Não rasgue a seda, que se
esfiapa.”
RENTE COMO PÃO QUENTE
Tem a ver com o pão matinal da
primeira refeição. Ele não pode faltar no café da manhã. Rente exprime
proximidade e também constância, assiduidade. A expressão tem tudo a ver com
pressa e pontualidade.
RESPOSTA LACÔNICA
Felipe da Macedônia (norte da Grécia),
queria unir todos os povos gregos sob seu domínio. Armou então um poderoso
exército e partiu para a conquista de outros territórios, onde se fez aclamar
rei. Esparta, porém, resistiu. Os espartanos ocupavam a região sul da Grécia,
chamada Lacônia. Felipe cercou as fronteiras da Lacônia e enviou a seguinte
mensagem aos espartanos: “Se não se renderem imediatamente, invadirei suas
terras. Se meus exércitos as invadirem, pilharão e queimarão tudo o que vocês
mais prezam. Se eu marchar sobre a Lacônia, arrasarei sua cidade”. Alguns dias
depois Felipe recebeu uma resposta. Abriu a carta e encontrou somente uma
palavra escrita: “SE” . Daí a denominação de lacônica a respostas secas e
curtas.
SAIR (OU FICAR) COM O RABO ENTRE AS PERNAS
Quando um
cachorro é enxotado de um lugar, ele sai cabisbaixo, com o rabo entre as
pernas. A expressão, então, ficou sendo usada para aquela pessoa que, depois de
humilhada, sai envergonhada e sem esboçar nenhuma reação.
SANTO DO PAU OCO
No começo do século XVIII, a Coroa
Portuguesa cobrava o Quinto, um imposto muito alto sobre o ouro extraído das
minas. Os mineradores de Minas Gerais então, mandavam fazer santos ocos de
madeira para poder esconder ouro dentro deles e assim poder escapar dessas
cobranças. A grande religiosidade do povo impedia que os guardas das barreiras
quebrassem as imagens para ver o que havia dentro. Esta foi a maneira
encontrada na época para burlar o Quinto. A expressão se refere portanto aquela
que não é nenhum santo.
SEGURAR A VELA
No período correspondente à Idade Antiga e
Média, as pessoas acendiam velas para fazer suas atividades noturnas como, por
exemplo, jantar, tomar banho, entre outras. Na Idade Média, as pessoas que eram
designadas ao trabalho braçal seguravam as velas para que seu senhor enxergasse
o que fazia. Em eventos e estabelecimentos que só funcionavam à noite,
colocavam garotos para acender e segurar velas. Esse também era o trabalho
desempenhado por alguns criados que seguravam candeeiros para que seus patrões
pudessem ter relações sexuais com luz, porém durante todo o ato sexual eles
deveriam manter-se de costas, de forma a não invadir a privacidade do casal. Ao
longo do tempo o termo “segurar vela” ganhou diferentes definições e a mais
recente é a utilizada para designar o papel de um amigo solteiro que acompanha
um casal de namorados, ficando esse ‘sobrando e/ou atrapalhando’ o clima
romântico do casal.
SOLTAR A FRANGA
A galinha é um dos animais com mais longo
período de cio, praticamente incessante. Como as galinhas domésticas geralmente
ficam presas em cercados, soltá-las seria a forma metafórica de liberá-las para
a prática do desejo sexual. Assim, a expressão significa assumir a posição
homossexual, ou adotar o comportamento do sexo oposto. Mas também tem conotação
mais ampla, como momentos de explosiva liberação pessoal (fazer ou dizer o que
quiser, por exemplo), não necessariamente homossexual.
SORRISO AMARELO
É o riso forçado, meio sem jeito,
constrangido. O sentido da expressão tem, evidentemente, a ver com a origem da
cor amarela, que vem do latim amarus, amargo, acre, difícil, com derivação para
o hispânico amarellu, pálido. Em tempos idos e vividos, o vocábulo se aplicava
aos doentes de icterícia, que ficam amarelos devido a alterações na bílis,
secreção amarga produzida pelo fígado. Quem exibe um riso amarelo quase sempre
só abre a boca num meio sorriso por questão de educação porque no fundo, no
fundo, está é pensando em chupar a carótida de seu interlocutor . . .
TEMPO DO RONCA
A expressão correta é do tempo do onça.
onca. O onça era o governador da cidade do Rio de Janeiro, Luís Vahia Monteiro,
militar português que lá chegou em 1725. Muito ranzinza e severíssimo, ganhou
esse apelido de onça do povão, que o odiava. Destituído do cargo 7 anos depois,
sumiu das terras cariocas deixando um rastro de profunda antipatia e a
lembrança de um tempo ruim, o tempo do onça . . .
TEMPO É DINHEIRO
O físico Benjamin Franklin (1706-1790)
teria chegado a ela depois de ler obras do filósofo grego Teofrasto (372-288
a.C). O pensador grego, a quem é atribuída a autoria de cerca de 200 trabalhos
em 500 volumes, teria mencionado a frase: tempo custa muito caro. Isso porque
ele escrevia, em média, um livro a cada dois meses.
TER DENTE DE COELHO
Quando um problema é muito intrincado,
exige habilidade para ser solucionado e parece esconder alguma artimanha.
Diz-se, então, que ali tem dente de coelho. Lembra o que acontece com os dentes
desse animal: por mais que tente, não os consegue esconder. Aparecem, mesmo
estando o bicho de boca fechada e lábios cerrados. Esperteza e espírito arguto
também caracterizam esse animal. Diante disso, a expressão “ter dente de
coelho” acabou traduzindo a idéia da existência de algum problema confuso
criado pela intenção humana, e que vai exigir certa habilidade para ser
resolvido. Dessa forma, em todos os casos onde existem armadilhas, dificuldades
ou artimanhas ocultas, mas que podem ser percebidas com o uso de um pouco de
atenção, a frase é cabível e perfeitamente aplicável.
TER SANGUE DE BARATA
Tem gente que pensa que as baratas
não têm sangue. Elas têm sim, mas não é como o nosso. No caso delas, é um
líquido quase pastoso e frio, como uma gosma, que transmite suas sensações. Ela
não sente dor como nós sentimos, por isso resiste tanto. Daí dizer-se que uma
pessoa tem sangue de barata quando não se altera facilmente, mesmo diante de
situações difíceis. É o caso de alguém de temperamento frio e de extrema
paciência.
TIRAR O CAVALO DA CHUVA
No século XIX, quando uma visita
iria ser breve, ela deixava o cavalo ao relento em frente à casa do anfitrião e
se fosse demorar, colocava o cavalo nos fundos da casa, em um lugar protegido
da chuva e do sol. Contudo, o convidado só poderia deixar o animal assim
protegido se o anfitrião percebesse que a visita estava boa e dissesse: “pode
tirar o cavalo da chuva”. Depois disso, a expressão passou a significar a
desistência de alguma coisa.
UM É POUCO, DOIS É BOM, TRES É DEMAIS
De acordo com o
escritor Deonísio da Silva, esta frase foi popularizada no século XX, em uma
canção do compositor brasileiro Heckel Tavares (1896-1969). “Os versos dizem
‘numa casa de caboclo, um é pouco, dois é bom, três é demais’ ”, explica o
escritor. Embora a expressão seja relativamente recente, Deonísio afirma que
seu sentido já aparecia na Bíblia. Segundo o Velho Testamento, três pessoas
formavam um grupo grande demais para discutir assuntos íntimos.
UNHA DE FOME
Dá-se o nome de unha-de-fome ao sujeito
mesquinho, pão-duro, sovina, avarento. Historicamente, a expressão sugere uma
imagem negativa: a dos cristãos em relação aos judeus, que conseguiam obter
rendimentos dos bens que acumulavam. Como as unhas simbolizam as garras de
alguns animais, eram aqueles que se apegavam ao dinheiro ou aos bens materiais
de maneira exagerada, como os animais para não perder a sua presa.
VÁ SE QUEIXAR AO BISPO
No tempo do Brasil colônia, por
causa da necessidade de povoar as novas terras, a fertilidade na mulher era um
predicado fundamental. Em função disso, elas eram autorizadas pela igreja a
transar antes do casamento, única maneira de o noivo verificar se elas eram
realmente férteis. Ocorre que muitos noivinhos fugiam depois do negócio feito.
As mulheres iam queixar-se ao bispo, que mandava homens atrás do fujão.
VAI DAR ZEBRA
A zebra não figura entre os 25 bichos do
jogo do bicho. Mas em 1964, um treinador de futebol muito galhofeiro garantiu a
todos os repórteres que, naquele ano, a Portuguesa seria a campeã carioca de
futebol. “Vai dar zebra”, dia ele. Os repórteres adoraram a brincadeira e o
termo, passando a divulgá-lo, tanto no esporte quanto na política ou em
qualquer acontecimento inesperado.
VOTO DE MINERVA
Na Mitologia Grega, Orestes, filho de
Clitemnestra, foi acusado de tê-la assassinado. No julgamento havia empate
entre os jurados, cabendo à deusa Minerva, da Sabedoria, o voto decisivo. O réu
foi absolvido, e Voto de Minerva é, portanto, o voto decisivo.
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