"Polêmica à vista" filme fala de um Brasil futurista evangélico com have e sexo grupal aprovado por Igreja





Dentro de apenas oito anos, o Brasil se transforma numa república evangélica. O Carnaval é substituído por grandes festas de música gospel. A tecnologia permite detectar, pelos scanners de segurança na entrada de um edifício, se uma pessoa está casada, solteira ou divorciada, ou se a mulher está grávida e o filho já foi registrado. Em questão de segundos, uma paternidade pode ser verificada para impedir os rebentos bastardos.


Uma voz infantil fala para os espectadores que as pessoas se reúnem agora para louvar a Deus na Festa do Amor Supremo. Sob a suavidade da iluminação néon, que domina a paleta das manifestações religiosas, seja numa rave ou numa igreja drive-thru, os servos se reúnem para encantar hinos, ler trechos da Bíblia e para ouvir pastores a qualquer hora do dia ou da noite. Embora a religião seja o tema dominante do filme, Mascaro traz para essa realidade uma das marcas mais fortes do seu cinema: a naturalidade do sexo, uma fonte permanente de prazer e de autoconhecimento. Essa conjunção é o esteio dos casais que frequentam a Divino Amor, um ramo evangélico em que a troca de casais não é vista como traição – se feito em conjunto e se o orgasmo se concluir entre os parceiros originais.



Em Divino Amor,o novo Brasil é tomado por uma banalização retórica e estética: os ambientes de trabalho são assépticos, as casas são idênticas e impessoais, os lugares de culto trazem como única decoração uma logomarca e as luzes multicoloridas projetadas sobre paredes brancas. Flores e sorrisos abundam por todos os cantos, mas as pessoas ocultam um sofrimento crônico por não corresponderem aos padrões ideais lançados pela espiritualidade.




No centro da trama se encontra um casal evangélico exemplar: Joana (Dira Paes) e Danilo (Júlio Machado), cujo trabalho para o governo se confunde com a dedicação direta a Deus. Enquanto ela luta para evitar divórcios num cartório, ele prepara coroas de flores para funerais cristãos. Falta um único elemento para que a vida de ambos esteja completa: um filho que tarda a chegar.




O projeto se encerra como um curioso pesadelo travestido de sonho, uma cautionary tale cujo tom rosado esconde um subtexto trágico. Estas são possivelmente as obras políticas mais relevantes no Brasil de hoje: aquelas que ao invés de nos dizerem o que pensar, quem adorar ou quem detestar, despertam uma sensação de desconforto, de que existe por aí um horror travestido de simpatia, uma violência disfarçada de superação. Joana, com suas roupas impecáveis, frases articuladas e moral intacta, se transforma no modelo de um terror ainda mais perverso porque nunca se assume como tal.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.